Na política ou na empresa, quando o líder precisa ser autoritário?

As manifestações pelo País geraram (por enquanto) pequenas mudanças concretas.
As manifestações pelo país geraram (por enquanto) pequenas mudanças concretas. No entanto, incitaram uma grande inquietação na população e um enorme desconforto no poder público. Incômodo este que tem gerado discussões intermináveis sobre os caminhos para atender às reivindicações da grande massa que toma as ruas.


A questão é que, no Brasil, as discussões tendem a esfriar e corremos o risco de perder tudo o que foi conquistado pelas sérias mobilizações. Isso não é diferente quando comparamos com o mundo corporativo, com as empresas. Um dia ouvi de um empresário americano algo que me fez repensar o meu modelo gestão: “No Brasil, as reuniões são intermináveis, se discute muitos assuntos, se definem inúmeras ações, mas, infelizmente, pouco ou quase nada é executado!”. Quem participa de muitas reuniões no dia a dia sabe do que estou falando.

E porque isso acontece? A resposta é simples: falta liderança! Falta alguém que saiba conduzir uma reunião, que crie sistemas para cobrar as pessoas, que assuma a responsabilidade. E não estou falando aqui de UM líder, e sim de lideranças, de pessoas que abracem as decisões e as transformem em resultados. Mas, para isso, é preciso comprometimento das partes envolvidas e nas empresas, atualmente, tem faltado isso. Imagine em um país do tamanho do Brasil.

É nessa hora que UM líder faz toda a diferença. No seu último pronunciamento em cadeia nacional e também no seu discurso no dia 24 de junho, a presidente Dilma Rousseff adotou um comportamento que, aos olhos de muitos, transpareceu um ato de autoritarismo. Ao propor pactos para governadores e prefeitos sem ter combinado nada anteriormente, ela encurralou os políticos de maneira geral. Isso gerou críticas de todos os lados.

Não estou aqui defendo as ideias apresentadas pela presidente, mas sim apontando um comportamento vital para um líder contemporâneo: a tomada de decisão.

Eu sou um defensor da gestão participativa, da escuta ativa, da discussão de ideias, mas o mundo corporativo me ensinou que mais importante do que o consenso é a decisão. Alguém tem que decidir, alguém tem que ouvir as opiniões – prós e contras – e ter a coragem de dizer o que será feito. Um líder que busca o consenso e quer agradar a todos é perigoso. Quando me perguntam qual é o pior líder que uma empresa pode ter, minha resposta é sempre a mesma: “O líder que não decide!”.

No exemplo citado acima, a presidente assumiu para si a responsabilidade pelas ações propostas. Se der certo, muitos farão uso desses resultados em seus programas políticos, dizendo o quanto participaram dessa revolução. Se der errado, também utilizarão, mas degradando a imagem de quem as propôs. E não tem jeito, é assim que as coisas são. Quem decide toma para si as consequências dos seus atos. A questão é que uma empresa, uma sociedade, um projeto ou um país é feito por líderes que decidem. Líderes que erram, precipitam-se, persistem, acertam e constroem.

A liderança por vezes é solitária e você precisa entender isso e saber conviver com críticas, desentendimentos, discussões. Você jamais agradará a todos, jamais! Portanto, um líder precisa ser autoritário quando uma decisão precisa ser tomada e alguém tem que assumir a responsabilidade!

Se você ouviu as pessoas, reuniu opiniões e está certo de que está tomando a melhor decisão, siga em frente! Decida, delegue e envolva as pessoas. Nunca justifique a sua decisão com “Eu sei o que estou fazendo!”. Mostre que a decisão pode não ser um consenso, mas que é o melhor a ser feito naquele momento.

E uma última dica: seja autoritário quando for preciso, mas não faça disso uma constante. Não se acomode com a posição de decidir sempre, pois, além de prejudicial para a sua imagem, você pode criar um time dependente, lento e sem a capacidade de assumir a responsabilidade.

* Alexandre Prates é especialista em liderança, desenvolvimento humano e performance organizacional. É também Master Coach, palestrante, sócio-fundador do ICA (Instituto de Coaching Aplicado) e sócio do Grupo Alquimia, consultoria especializada em franquias. Escreveu o livro "A Reinvenção do Profissional - Tendências Comportamentais do Profissional do Futuro" e é autor da metodologia de coaching "Inteligência Potencial".